Sim, disse ela antes de atirar-se da pedra, sim, aquela era uma dor tão grande que nenhum caminho me poderia livrar dela. Só estar imóvel, só estar quieta em silêncio, sem asas, sem batidas do coração. Por isso meus pés fincaram-se no chão desta pedra para sempre. Mas agora os meus olhos se abriram e eu começo a desejar o mundo novamente. Eu baixei a cabeça para esconder, mas ela, mesmo de costas e a olhar o céu viu a sombra na minha cara. Não sejas tonta, ela disse. O meu desejo do mundo não é o que me afasta de ti. O meu desejo do mundo é todo e nada mais que o meu desejo de ti. E o que te afasta, então? Pensei calada. Ela sorriu e era como o sol. O que me afasta de ti é teres medo.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
reflexões marginais regadas ao vinho de uma casa qualquer ou o elogio retardado do parangolé
Estar à margem não é o que parece. As margens são um lugar a partir do qual se faz mudar o mundo. Primeiro o próprio mundo, o mundo interior, depois o que achamos que é o mundo que pensamos ser exterior- como se houvesse algum mundo exterior, absolutamente exterior, quero dizer. Se um marginal pode ser herói, é porque está na linha. Marginais, afinal, são os que andam na linha. Os que estão fora da linha não existem, os que estão dentro da linha pouco podem fazer. Cabe aos imprecisamente localizados, aos deslocais, nem dentro nem fora, empurrar, trazer, levar, filtrar, deixar ou não deixar sair, permitir ou impedir. Ser, estar, permanecer, ficar, continuar... os verbos de ligação pertencem aos marginais. Mas pertencem a eles também os verbos de ação mudar, criar, fazer, desfazer. Andar pelo mundo. Os andarilhos são, por excelência, marginais. Andam na linha das fronteiras, na linha dos tempos, na linha dos abraços e dos desamparos, na linha das reevoluções. Longa Linha da Vida aos Andarilhos!
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Boa Noite.com
É, vejam aí, o meu pescoço tem linhas. O tempo passa, a pele que o diga. Ler a pele é conhecer a memória. Nem sempre saberemos os fatos, mas muito podemos descobrir sobre a vida ao ler as linhas do rosto, do pescoço, das mãos de alguém. Os insones, como eu, costumam ter linhas aparentes mais cedo. Junto com as marcas violeta sob os olhos, elas contam das vezes que passamos a olhar a lua, a ouvir a cidade que dorme, o mar que nem temos perto e as canções preferidas, a chorar os amores vãos e as injustas saudades dos que nos amavam, mas se foram, a dançar sós no silêncio do apartamento ou a beber com outros insones num café qualquer, a fazer amor com amor ou sem mais nada... Ou, se calhar, ficam mudas. Normalmente acontece diante de quem nunca passou uma noite em claro.
domingo, 7 de fevereiro de 2010
sábado, 6 de fevereiro de 2010
self -service
E então? Ó vida, vamos lá, amanhã (daqui a pouco para os que dormem) é sábado. Eu adoro sábados. Tanto quanto implico com os domingos e detesto segundas-feiras. Mas amanhã é sábado e serei feliz. Já o sou, só com a expectativa. Amanhã vou acordar muito tarde, vou fazer cozinha de festa, vou ler o máximo possível, e, se tiver sorte, pode aparecer uma surpresa (as surpresas de sábado são as melhores). Vou, enfim, ser eu mesma mais um pouco. Ultimamente tenho encontrado um prazer a mais em ser eu. Sempre gostei, mas acho que ando a descobrir em mim umas coisas novas ou a redescobrir umas coisas velhas de que gosto especialmente. Ah, desculpem lá o narcisismo, mas, quem me conhece sabe que me apraz imenso descobrir e amar coisas nos outros. Hoje e ontem estou sendo o meu outro. Começou por conta de um sonho que, primeiro me assustou, depois me fez refletir, e, a reflexão está a me trazer respostas via insight a mais ou menos cada quatro horas. É isso, psicanálise self-service. Adianta? Sei lá. Mas tenho consultoria autorizada. E, ao fim e ao cabo, se não funcionar, pelo menos diverte.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
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