Estar à margem não é o que parece. As margens são um lugar a partir do qual se faz mudar o mundo. Primeiro o próprio mundo, o mundo interior, depois o que achamos que é o mundo que pensamos ser exterior- como se houvesse algum mundo exterior, absolutamente exterior, quero dizer. Se um marginal pode ser herói, é porque está na linha. Marginais, afinal, são os que andam na linha. Os que estão fora da linha não existem, os que estão dentro da linha pouco podem fazer. Cabe aos imprecisamente localizados, aos deslocais, nem dentro nem fora, empurrar, trazer, levar, filtrar, deixar ou não deixar sair, permitir ou impedir. Ser, estar, permanecer, ficar, continuar... os verbos de ligação pertencem aos marginais. Mas pertencem a eles também os verbos de ação mudar, criar, fazer, desfazer. Andar pelo mundo. Os andarilhos são, por excelência, marginais. Andam na linha das fronteiras, na linha dos tempos, na linha dos abraços e dos desamparos, na linha das reevoluções. Longa Linha da Vida aos Andarilhos!
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Depois da nossa conversa de hoje, fiquei curioso sobre ti. Encontrei este teu blog e um post hoje mesmo colocado. O que li, lembrou-se de dois pequenos textos que escrevi há muitos anos. Aqui os deixo como forma de partilha.
ResponderExcluir1.
Do meu pai herdei a fobia às fronteiras. Do onde começa e do onde acaba. Fomentei por isso um gosto pelo dúbio; não que quisesse romper o limite mas torná-lo indefinível ou, talvez, melhor, não localizável. Substituir à rigidez do limite a plasticidade do ambíguo; marginalizar, pôr à margem, pôr-me simultaneamente dentro e fora. Desta forma transgredia, mas sempre bifidamente, jogando a identidade, jogando com a identidade, perseguindo-a até ao limite mas simultaneamente perdendo-a no equívoco da duplicidade. Furtava-me assim à definição, ao desconforto oferecido pelo é, pelo sou, pelo ser si próprio, por uma afirmação de si mesmo que acabava por abafar, talvez mesmo axfixiar, o desejo.
2.
Encontro adiado (titulo)
cada um de nós
não se encontra nunca
a si mesmo
somos o espelho de um espaço
destino de uma ficção jogada
no espaçamento do encontro
E já agora aproveito para desejar boa viagem e boa estadia no Brasil
Ando com muitas saudades de uma andarilha que foi para Portugal e não quer mais voltar, sequer tem um tempinho pra falar com uma pequena andarilha paraense em São Paulo.
ResponderExcluirSaudades sem fim.
beijos
obrigada, rui, pela generosidade da partilha e pela beleza das palavras partilhadas.
ResponderExcluirObrigada flor. Olharei com mais atenção para dentro de mim. Depois de diagnosticar o que me entrava, agirei conforme o que deve ser modificado.É isso...AGIR!
ResponderExcluirAs mudanças são regidas pela ação e abastecida pela força da vontade, em qualquer tempo aqui descriminada.
Muito obrigada pela lembrança. Foi providencial!