quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Boa Noite.com

É, vejam aí, o meu pescoço tem linhas. O tempo passa, a pele que o diga. Ler a pele é conhecer a memória. Nem sempre saberemos os fatos, mas muito podemos descobrir sobre a vida ao ler as linhas do rosto, do pescoço, das mãos de alguém. Os insones, como eu, costumam ter linhas aparentes mais cedo. Junto com as marcas violeta sob os olhos, elas contam das vezes que passamos a olhar a lua, a ouvir a cidade que dorme, o mar que nem temos perto e as canções preferidas, a chorar os amores vãos e as injustas saudades dos que nos amavam, mas se foram, a dançar sós no silêncio do apartamento ou a beber com outros insones num café qualquer, a fazer amor com amor ou sem mais nada... Ou, se calhar,  ficam mudas. Normalmente acontece diante de quem nunca passou uma noite em claro.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

sábado, 6 de fevereiro de 2010

self -service


E então? Ó vida, vamos lá, amanhã (daqui a pouco para os que dormem) é sábado. Eu adoro sábados. Tanto quanto implico com os domingos e detesto segundas-feiras. Mas amanhã é sábado e serei feliz. Já o sou, só com a expectativa. Amanhã vou acordar muito tarde, vou fazer cozinha de festa, vou ler o máximo possível, e, se tiver sorte, pode aparecer uma surpresa (as surpresas de sábado são as melhores). Vou, enfim, ser eu mesma mais um pouco. Ultimamente tenho encontrado um prazer a mais em ser eu. Sempre gostei, mas acho que ando a descobrir em mim umas coisas novas ou a redescobrir umas coisas velhas de que gosto especialmente. Ah, desculpem lá o narcisismo, mas, quem me conhece sabe que me apraz imenso descobrir e amar coisas nos outros. Hoje e ontem estou sendo o meu outro. Começou por conta de um sonho que, primeiro me assustou, depois me fez refletir, e, a reflexão está a me trazer respostas via insight a mais ou menos cada quatro horas. É isso, psicanálise self-service. Adianta? Sei lá. Mas tenho consultoria autorizada. E, ao fim e ao cabo, se não funcionar, pelo menos diverte.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

o silêncio e os ritmos

Minha amiga Isa diz que eu sou do povo da floresta e que o teatro que fazemos é feito com as máscaras mais lindas, o silêncio e os ritmos. Eu respondo ah... quem me dera... se eu dançasse assim é que era bom... Se eu dançasse o silêncio que espreita em minha alma sei que dançaria lindamente e não precisaria talvez pensar tanto. Não tenho nada contra o pensar nem contra os poemas feitos de palavras. Não. Mas dançar o silêncio é que leva a gente pela água, rio acima, mar adentro, as folhas nos ouvidos, o vento, a pele líquida. É onde estão os segredos profundos. Os segredos que não foram feitos para serem sabidos, mas para serem dançados com as máscaras mais lindas e a alegria furiosa da vida toda levantada em nós. Quem me dera, menina Isa, quem me dera...

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Janela

Sono, algum, mas é tarde demais pra ir dormir. Então venho cá falar ao vento. Mais tarde o sol vai se por de novo na minha janela e outra noite vai chegar. Oito meses depois, é como se fossem anos, é como se fosse ontem. Em março, mais um, outro em abril. Meus mortos. Eu os contei até hoje. Não vou mais contá-los. Não vou mais pensar neles como perdas. Quando lembrar deles, que seja como memória, um pedaço do que um dia eu mesma terei sido nesta vida. Porque é assim mesmo. Por um tempo somos memória e depois poeira de estrelas. Passamos todos. E o tempo é muito maior que nós. O amor talvez seja mais forte que o tempo, maior, não.